Cultura

A época de Scorsese

Mostra na Cinemateca de Berlim revive encontros do diretor com atores e roteiristas

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O bilhete de Travis Bickle para a prostituta Iris não é objeto de ficção. Estão lá, no papel manuscrito, as palavras sobre o dinheiro que a jovem receberá quando

O veterano do Vietnã estiver morto. Assim como esse tesouro para um cinéfilo e aficionado de Taxi Driver (1976), há o calção e as luvas do boxeador de Touro Indomável (1980) e a camiseta manchada de sangue, este sim falso, do psicopata de Cabo do Medo (1991). São todos papéis de Robert De Niro, um dos grandes atores parceiros de Martin Scorsese. O cineasta é personagem de uma homenagem da Cinemateca de Berlim até 12 de maio. O carinho de Scorsese pelo cinema da Itália, terra de seus pais que tem lugar de honra na exposição, também será reconhecido em Turim, para onde a mostra segue, e ainda em Genebra, na Suíça.

São cerca de 600 itens, entre fotos, documentos como páginas de roteiro e cartas, storyboards, figurinos e peças de cenografia, além de muitas horas de cenas de filmes. É considerada a seleção mais completa em torno do cinema do diretor, saída do acervo particular, da Universidade do Texas e de colaboradores frequentes, como o roteirista Paul Schrader e De Niro. “Alguns objetos foram recolhidos diretamente da minha casa e do escritório para a mostra”, garante Scorsese. Ele não pôde vir à abertura em janeiro por estar no set de The Wolf of Wall Street, sua nova produção, mas deixou um vídeo para os visitantes. “Espero que a honra de ser homenageado por um local que guarda a memória de Marlene Dietrich, Fritz Lang e Murnau passe a vocês o meu amor pelo cinema.” Sua voz ainda pode ser ouvida em gravação de audio-guide durante o percurso da mostra.

Um dos curadores, Nils Warnecke, diz que Scorsese apenas pediu que não se enfocasse demais a violência em seu cinema. Embora tenham início com o surreal curta-metragem The Big Shave (1968), no qual um rapaz se barbeia em meio a um jorro de sangue, as nove seções da exibição atentam a uma filmografia diversa, apegada à noção pessoal e familiar do diretor. Destacam-se a formação na nova-iorquina Little Italy, a influência dos pais, escalados em pontas de filmes como A Época da Inocência (1993) e Cassino (1995), assim como as filhas. Numa noção mais ampla de família, a união a atores como Harvey Keitel, Joe Pesci e Leonardo DiCaprio está representada por imagens de gravações ou informais. Mas como Scorsese prefere apontar, seu cinema é antes tributário da Nova York que lhe deu infância difícil e reveladora, sintoma que volta e meia procura compreender na tela.

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