Educação

Sala de aula Google

Primeiro espaço no formato da empresa é implantado em 
São Paulo e promete um ambiente colaborativo de ensino

Google Learning Space||
|| ||
Apoie Siga-nos no

Esqueça o quadro-negro, as carteiras enfileiradas, as paredes fechadas. No Colégio Mater Dei, localizado na zona oeste de São Paulo, um novo formato de sala de aula chama a atenção por dispensar todos esses elementos.

Trata-se do primeiro Google Learning Space do mundo ou a “sala Google”, como os alunos costumam chamar. Inaugurado há pouco mais de três meses, o espaço é inspirado nos conceitos e no clima de descontração dos escritórios da gigante de tecnologia e pretende reinventar a dinâmica das aulas do Ensino Infantil ao Médio por meio de seu design arrojado.

No chão revestido com grama sintética, estão espalhados almofadas, pufes e cubos mágicos gigantes que incitam o professor e seus alunos a se sentarem próximos uns aos outros, formando uma grande roda.

As paredes de vidro, por sua vez, parecem convidar quem passa por ali a espiar o que acontece dentro da sala. Para completar, claro, muita tecnologia de ponta: chromecasts para projetar as tarefas e apresentações dos alunos a partir de seus tablets (distribuídos pela escola), Smart TVs, sistema de som integrado e internet sem fio de alta velocidade.

O projeto surgiu de uma parceria da escola com o setor de educação do Google e, mais do que criar um ambiente hiperconectado, tem como objetivo reinventar as interações entre docentes, alunos e colegas de sala. “Queríamos criar um ambiente colorido, despojado e informal, onde os alunos tivessem vontade de ficar e que favorecesse as trocas”, explica Marcelo de Freitas Lopes, coordenador de Tecnologia Educacional da escola e representante da Foreducation, empresa responsável pela capacitação dos professores e pela parceria com a multinacional.

No Google Learning Space, os alunos são incentivados a conversar entre si e com o professor, em um ambiente de colaboração virtual e presencial. “A ideia é tornar a experiência da aula e da escola mais agradável, acolhedora e estimulante”, diz Lopes.

Em outras palavras, a sala foi projetada em sintonia com as características e aspirações das novas gerações, visando resgatar o engajamento desse público com o ambiente escolar. “A ideia é mudar a cultura da escola por meio da transformação do espaço físico. Equipamento por equipamento não resolve nada. Capacitação melhora o currículo do professor, mas também não adianta se ele não puder colocar o novo conhecimento em prática”, aponta Lopes.

Entre as mudanças mais visíveis, está a desconstrução da hierarquia entre alunos e professores, tradicionalmente reforçada pela distribuição das carteiras enfileiradas diante do docente. “Nesta sala, todos ficam no mesmo nível e isso cria um ambiente mais propício à discussão, à aproximação. Isso também torna o estudante mais protagonista do processo de aprendizagem, da aula”, explica o educador.

Sala de aula google

Outro ponto incentivado pelo espaço é a aprendizagem colaborativa. As ferramentas da sala permitem trabalhar em nuvem, ou seja, de onde quer que o aluno esteja. Além disso, mecanismos como o Google Drive – serviço de armazenamento e sincronização de textos – possibilitam que vários alunos e, até mesmo, a turma inteira edite um trabalho simultaneamente.

Por meio de um histórico que mostra a contribuição de cada usuário para o arquivo, o professor consegue acompanhar o desenvolvimento não somente do conjunto, mas também individual. “Essa coisa de juntar todo mundo e compartilhar a informação é o mais legal. A sala proporciona bem essa experiência de a gente ser o responsável pela busca de novos conteúdos e compartilhamento com os nossos colegas”, acredita Thiago Pinheiro, estudante do segundo ano do Ensino Médio.

Para Aleksej Kozlakowski Junior, professor de Biologia na escola, a grande diferença de lecionar na “sala Google” é este novo paradigma. “Na sala de aula tradicional, mesmo que o professor utilize algum recurso tecnológico, ele é o centro das atenções, o emissor da informação.

Nesse modelo não. Todos os alunos têm acesso à informação, seja pelo iPad ou smartphone que têm em mãos”. Logo, o professor assume a posição de mediador e orientador do processo de construção do conhecimento. “Temos de ensiná-los a procurar, filtrar informações, a fazer uma curadoria na internet”, explica.

Para o professor, os trabalhos colaborativos trazem também maior comprometimento. “A responsabilidade é com o colega e não com o professor, e isso traz maior engajamento. Pois se eu vejo o professor como meu opositor, simplesmente não faço o trabalho que ele pediu. Mas quando a responsabilidade de não fazer algo afeta meu colega, a história é diferente”, diz.

Para Gabriel Fernandes, estudante do segundo ano do Ensino Médio, a experiência com a nova sala tem sido positiva. “Eu gosto porque pela primeira vez sinto, de fato, que estou interagindo com o trabalho que estou fazendo na escola. Não é aquela coisa que o professor chega, apresenta o conteúdo e pronto. Ali, parece que a gente consegue discutir mais e em grupo.

Entra até no contexto de outras matérias ou da vida cotidiana mesmo”, relata. Alexandra Passos, do terceiro ano, concorda. “Geralmente, a gente participa mais da aula quando é no espaço do Google. Parece que está todo mundo junto, tem menos pressão. Eu me sinto mais à vontade para tirar dúvidas, perguntar coisas, pois levanto e vou até o professor. Não é aquela coisa de levantar a mão e a sala inteira olhar para você.”

Além de um espaço de ensino, o Google Learning Space vem funcionando como uma área de convivência e lazer dentro da escola. No intervalo, o uso da sala é livre: o aluno pode estudar para uma prova ou simplesmente relaxar em um dos pufes, usufruindo da rede Wi-Fi.

“O principal medo dos professores era de que toda essa descontração virasse dispersão, mas não é isso o que está acontecendo. Há um envolvimento maior com a aula, com os colegas. Vemos isso pelo nível de entusiasmo  dos alunos. E quando estão mais envolvidos, aprendem melhor”, diz Lopes.

Diante da boa receptividade, espera-se que novos espaços como o Google Learning Space surjam ao redor do mundo. “Recebemos a visita de um educador dos EUA para conhecer melhor nosso projeto e espalhar para outras escolas”.

*Publicado originalmente em Carta na Escola

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo