Educação

Inclusão e sustentabilidade

Escola de Joinville cria jardim sensorial e horta pedagógica acessível aos alunos com deficiência

Horta inclusiva|Construção de um “jardim sensorial”
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Em Joinville, os professores da Escola Municipal Prof.ª Eladir Skibinski, localizada no bairro operário de Aventureiro, são adeptos da tese “querer é poder”. Há três anos, o grupo desenvolve uma experiência que propõe integrar ainda mais crianças portadoras de deficiência ao ensino regular. “A função da escola não é ser segregadora. Estamos aqui justamente para cumprir esse papel de inclusão social”, afirma a professora Nazaré Costa, diretora de ensino e com 20 anos de experiência em salas de aula. Apesar das dificuldades, principalmente financeiras, os dividendos são animadores.

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Em 2013, surgiu o primeiro projeto: a construção de um “jardim sensorial”. A ideia nasceu a partir de discussões internas: a escola sempre teve uma área para o plantio de flores, mas as crianças portadoras de deficiência não tinham acesso. Posteriormente, a ideia foi contemplada pela 21 edição do prêmio Embraco de Ecologia 2013.

Aliada à necessidade de adaptá-la à nova condição, as experiências já demostraram que pessoas com deficiência necessitam de estímulos para o seu desenvolvimento psicomotor. “Elas só aprendem por meio daquilo que veem ou sentem. Tocar, sentir, cheirar, olhar, são fundamentais para o seu crescimento e fazem parte do aprendizado. Essa é a função do nosso jardim sensorial” explicou a diretora. O novo espaço, além de adequado aos que caminham com dificuldade e ao movimento das cadeiras de rodas, recebeu vasos com flores e hortaliças que ficam à altura dos cadeirantes para que possam exercitar os sentidos com absoluta segurança.

Outra experiência bem-sucedida foi a instalação da Praça de Leitura, um ambiente ao ar livre totalmente adaptado às suas necessidades. Como nos demais projetos, a decisão pela escolha do local foi discutida com os alunos. “Eles participam dos debates, sugerem, são ouvidos”, afirmou Nazaré. No entanto, a frequência é facultada a todas as crianças. Não se trata de espaços exclusivos àqueles com deficiência. “Com isso, desde muito cedo os alunos aprendem que, apesar de algumas limitações, todos são iguais.”

Além das reformas estruturais, outro desafio foi implementar na escola uma cultura focada ao atendimento das crianças com necessidades especiais. Em algumas turmas, a frequência de um ou dois alunos fez com que toda a sala se adequasse à nova realidade. Atualmente, dos 610 alunos, 16 são especiais. Dados da Secretaria Municipal de Educação de Joinville mostram que o número de alunos com deficiência que frequentam o ensino regular fundamental tem crescido no município. Em 2013, o índice foi de 3,9%, e em 2014, de 9,7%. O resultado dessa política está na avaliação do casal Rosana e Tarcísio do Nascimento, cujas filhas, de 14 e 9 anos, exigem atendimento especializado. Sara, a mais velha, é portadora de uma doença rara, xeroderma pigmentoso; Maria, possui deficiência global neurológica e psicomotora, associada a crises convulsivas. “Aqui, encontramos a tranquilidade necessária para a educação e a adaptação de nossas filhas com crianças normais”, afirma Tarcísio.

A preocupação dos educadores não fica restrita à sala de aula. A professora Lizandra Nesi de Oliveira, pós-graduada em Educação Especial e Inclusão, com especialização em Atendimento Educacional Especializado, coordena um projeto de acompanhamento dos alunos com necessidades especiais. Um fator importante nesse caso é que ela mora no bairro. Assim, convive com os pais e alunos no dia a dia, o que a torna uma espécie de ponto de referência e confiança à comunidade. “A escola não pode ser um local onde as crianças venham somente para aprender a ler, escrever e calcular. Elas precisam aprender a conviver com outras pessoas, com as adversidades da vida. Nossa missão é formá-las cidadãos”, afirmou.

O desafio para 2015 é a construção da horta escolar pedagógica, como prevê o programa da Secretaria de Educação de Santa Catarina. No entanto, se o propósito da escola é incluir pessoas com deficiência, o projeto deve prever o acesso de cadeirantes, dos que andam com auxílio de muletas ou dificuldades de locomoção. Assim, é impossível que os canteiros sejam no solo. Mais uma vez, os alunos foram convidados a opinar e, no debate, surgiu a ideia de construir canteiros elevados, cujo layout do novo modelo foi desenvolvido pelos acadêmicos do curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Arquitetônico e Urbanístico de Apoio à Comunidade (CAUAC) da Católica de Santa Catarina em Joinville, a partir da solicitação da escola.

Assim, ficou definido o projeto técnico para a execução da obra.No Brasil, a partir da Constituição de 1988 e dos esforços promovidos pelo governo federal na área de educação, verifica-se importantes avanços alcançados nos últimos anos. Segundo o Censo Escolar da Educação Básica – 2012, elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), 62,7% das matrículas da educação especial em 2007 estavam nas escolas públicas, e 37,3%, nas escolas privadas. Em 2012, esses números alcançaram 78,2% nas públicas, e 21,8%, nas escolas privadas, mostrando a efetivação da educação inclusiva e o empenho das redes de ensino em envidar esforços para organizar uma política pública universal e acessível às pessoas com deficiência. Constata-se um aumento de 9,1% no número de matrículas nessa modalidade de ensino, que passou de 752.305 matrículas, em 2011, para 820.433, em 2012.

Apesar das dificuldades, a professora Nazaré Costa – “demasiadamente ansiosa” como se autodefine – teima em levar adiante suas ideias. Para ela, a inclusão social, em todos os sentidos, é um elemento fundamental na formação do caráter de qualquer criança, e a receita do sucesso está no compromisso coletivo. “Quando todos queremos, o fardo parece ser sempre mais leve.” Esse grupo de idealistas dá mostras de que, com medidas factíveis, é possível derrotar o preconceito e sobrevir a solidariedade como bem maior.

*Publicado originalmente em Carta Fundamental

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