Artes

Grafias de nomes estimulam o brincar com o humor

Por que não propor o desafio aos meninos e meninas que transformem sua assinatura em autorretratos?

Grafia Millôr|||
Imagem do livro "Um nome a zelar" |||
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Inspirada no livro Um nome a zelar em que Millôr Fernandes experimenta grafar seu próprio nome de 90 formas artísticas irreverentes, pretendo aqui sugerir uma divertida sequência didática para brincar com a escrita do nome próprio e outras tantas escritas autorais que juntam a grafia com o desenho para comunicar com humor.

Cartunista, chargista, humorista, artista plástico, jornalista, teatrólogo, tradutor, pensador, escritor, autor de inúmeras obras que ressaltam um senso de humor acima da média, Millôr brinca com o desenho do próprio nome, dando sentidos espirituosos para o mesmo.

Sua versatilidade e liberdade criativa dialogam com o grau de inventividade das crianças. Não à toa, a sequência sugerida levará ao interesse máximo dos pequenos em expressarem sua autoria inspirados numa arte singular.

[bs_row class=”row”][bs_col class=”col-xs-2″][/bs_col][bs_col class=”col-xs-10 azul”]Leia atividade didática de Artes inspirada neste texto
Possibilidade interdisciplinar: Língua Portuguesa
Duração: 2 meses
Expectativa de aprendizagem: Usar o ponto de encontro entre o humor, o desenho e a escrita para criar formas instigantes de se comunicar e expressar a própria criatividade por meio de cartazes, desenhos e pinturas nos espaços escolares e públicos.[bs_citem title=”” id=”citem_5422-8f97″ parent=”collapse_e98f-4f2c”]

1- Conhecer algumas das obras de Millôr que ressaltam um diálogo com a imaginação infantil, tal como as diferentes versões que escreve da história de Chapeuzinho Vermelho e outros tantos textos e desenhos instigantes de sua obra Tempo e Contratempo. E ainda apreciar obras que desafiam nossa inteligência com humor, como no O livro Branco do humor. Tais propostas servirão para entrar no espírito do autor e na sua proposição para encontrar o humor na vida, afinal como diz Millôr: “Viver é desenhar sem borracha”. Melhor que a vida e a escola sejam espaços de alegria, de humor (o mesmo que húmus ou seja: terreno fértil para criação!)

2- Além de buscar na biblioteca livros deste autor para que se possa ter uma dimensão maior de seu trabalho, vale consultar a internet, especialmente os seguintes endereços:

Facebook do Millôr

Site oficial do autor

Saite Millôr Online” com diversas obras do autor, dentre elas boa parte do livro Um Nome a Zelar

Site do Instituto Moreira Salles que abriga o acervo de Millôr. Além de obras, livros publicados comemorativos de trabalho do artista, há uma série de vídeos em que personalidades lêem textos de Millôr tais como: Jô Soares, Marcelo Rubens Paiva, Matthew Shirts, Fernanda Montenegro, etc.

3- Apreciar, em especial, o livro Um nome a zelar, que pode ser scaneado e projetado ou mesmo pode-se buscar diferentes imagens deste livro que estão no site e em seguida propor que as crianças criem diferentes formas de representarem seu nome próprio, brincando com a linguagem do desenho tal como fez Millôr Fernandes.

4- Aprofundar o traçado e humor através de pesquisa das fontes de inspiração estética do próprio Millôr que teve influências de Saul Steinberg (cartunista e ilustrador), André François e Georg Grosz, (ambos cartunistas). Aproveitar as muitas imagens desses artistas presentes na internet para aprofundarem-se na linguagem da imagem.

5- Propor que, semanalmente, possam ir aprimorando os desenhos na intenção de fazer, cada qual um livro individual que possam compor um compêndio grupal. “Muitos nomes a zelar”. E dos que mais gostarem, ao final podem usar como esboço para uma intervenção mural na própria escola.

6- Sabendo que Millôr Fernandes, referência para muitos ilustradores e cartunistas foi um dos primeiros artistas gráficos no Brasil a usar computadores para suas criações, proponha o uso dos recursos do computador para a confecção do livro Muitos nomes a zelar.

7- É curioso compartilhar com as crianças que o nome de origem de Millôr era Milton Fernandes. Só que o escrivão no cartório com sua caligrafia transformou o T em L ao colocar o traço da letra T acima da letra O. Ao descobrir esta nova grafia de seu nome, aos 17 anos, o multiartista passa a assumir este lapso de escrita como seu nome. Que tal brincar em modificar o nome de forma que possa se desdobrar em pseudônimos que possam compor também o livro que estão formando?

8- Procure conhecer acerca da história das letras e da imagem da antiguidade aos dias de hoje, presente de forma primorosa no livro de Massin La lettre et l’image , Gallimard.

9 – Estimule as crianças a brincarem com o estudo de outros períodos históricos nos quais as letras ganharam valor estético e decorativo apurado tal como verificamos nas letras iniciais e capitulares (ou letra capital) da Idade Média que iniciavam os manuscritos e livros antigos com uma tipografia diferenciada, maior do que o restante do corpo do texto, muitas vezes adornada com arabescos, flores e até mesmo ilustrações de cenas em miniatura muito elaboradas que tinha uma função gráfica na organização dos conteúdos e divisão do texto. Será que o grupo pode usar deste conhecimento para os textos que estão produzindo no cotidiano escolar e que possam contar com este recurso gráfico?

10- Proponha a pesquisa acerca de outros trabalhos que dialoguem com formas de brincar com a grafia do alfabeto e que possam inspirar a obra das crianças. Uma sugestão é o site que traz sob o título Alfabeti Creative: lettere e fantasia! uma série de artistas fazem uso do alfabeto de forma extremamente criativa, como: Howard Schatz, Nelde, Lisa Riemann , Dutcho Sborne, Jen Quinn, Nir Torber, Viktor Koen, Stuart Whitton, Amandine Alessandra,dentre outros.

11- Vale também inspirar-se no trabalho do catedrático em design gráfico Peter Jeney, em especial em seu livro Desenho anatômico em que propõe reinvenções da figura humana, sendo que várias delas por meio da escrita. E se possível vale convidar artistas gráficos para falarem de seu trabalho com o texto/imagem.

12- Finalização e lançamento de uma obra coletiva de todos nos muros da escola, que passará a acolher as assinaturas bem humoradas de seus usuários, bem como lançamento de um livro coletivo com seleção de obras pelos próprios autores. [/bs_citem][bs_button size=”md” type=”info” value=”Leia Mais” href=”#citem_5422-8f97″ parent=”collapse_e98f-4f2c” cor=”azul”][/bs_col][/bs_row]

No prefácio do livro desse humorista, Mario Sérgio Conti ressalta o caráter autoral da forma como Millôr escreve o próprio nome, como uma marca indissociável de sua personalidade multi. “Nenhum nome seu é igual ao outro. Mas todos, misteriosamente, são Millôr – no traço propositalmente imperfeito ou ingênuo, na delicada mescla de cores, na justaposição de elementos, nas alusões líricas e, sobretudo, na graça. Com isso, transforma a sua assinatura em obra, em autorretrato.” (Conti, 2008).

millor5 Imagem do livro “Um nome a zelar”, de Millôr Fernandes

Por que não propor o desafio aos meninos e meninas que transformem sua assinatura em autorretratos? E ainda que possam experimentar brincar com o humor que possa surgir de desenhar outras palavras de um novo e inusitado modo?

O brincar com o humor subjacente à vida é uma experiência ímpar, ainda mais suscitada por um especialista nessa arte como Millôr. Por si só essa proposta já traz para a escola um empenho imaginativo digno da capacidade infantil e juvenil. Inventar grafias do imaginário pode disparar excelentes processos criativos e, para além da diversão, será muito útil para que as crianças experimentarem deixar sua marca em cartazes e outros portadores textuais que solicitam uma comunicação dinâmica.

Assinatura de Manuela Barbieri, de 10 anos Assinatura de Manuela Barbieri, de 10 anos

Podemos imaginar portas ou muros de escola decorados com as assinaturas brincalhonas das crianças ou, então, diversos cartazes ao longo do ano pensados com estratégias comunicativas que possam suscitar diferentes reações e sentimentos nos públicos leitores. E por que não publicar um livro na escola que dialogue com o autor em questão?

Podemos ainda compartilhar com as crianças diversas obras desse autor de mil facetas lúdicas que mostram seu talento não só no desenho, mas também na escrita e, sobretudo, no diálogo entre escrita e desenho.

Assinatura de Arthur Martins, de 7 anos Assinatura de Arthur Martins, de 7 anos

Saiba mais:
Um nome a zelar, de Millôr Fernandes. Desiderata, 2008
Tempo e Contratempo, de Millôr Fernandes. Beca Produções Culturais LTda, 1998
O livro branco do humor, de Millôr Fernandes. Ed. Matrix
Millôr: obra gráfica , organizado por Cássio Loredano, Julia Kovensky e Paulo Roberto Pires. Instituto Moreira Salles
100 + 100 – Desenhos e frases, de Millôr Fernandes. Instituto Moreira Salles
Desenho Anatômico, de Peter Jeney. Gustavo Gili, 2014
La lettre et l’image , de Massin.

Adriana Klisys é diretora da Caleidoscópio Brincadeira e Arte (www.caleido.com.br) e autora dos livro Quer jogar? Edições SESC SP e Ciência, Arte e Jogo, Editora Peirópolis

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