Educação

Ciência na prática em sala de aula

Material didático faz conexões entre Geociências e realidade de alunos moradores de cidades mineradoras

|
|Amostras de fragmentos de rochas e minerais devidamente identificados integra o material |
Apoie Siga-nos no

A falta de familiaridade dos alunos brasileiros com a área de ciências não é nenhuma novidade. Se o último PISA colocou o País na 59° posição de um ranking de 65 nações neste campo do conhecimento, a primeira edição do Indicador de Letramento Científico (ILC) revelou que apenas 5% da população pode ser considerada proficiente em linguagem científica, ou seja, conhece questões relacionadas ao meio ambiente, saúde, entre outras áreas.

Déficit de professores e recursos didáticos adequados, um ensino descontextualizado do cotidiano e pouco diálogo com as Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICS) são alguns pontos que ajudam a explicar tal quadro. São também esses os motivos por trás da ausência de diálogo e consequente afastamento dos jovens da área.

Com tantos desafios a serem superados, o que dizer da instrução de um campo ainda mais específico, as Geociências? Ciclo da água, formação dos solos, mineração, recursos energéticos e impactos ambientais são exemplos de alguns assuntos da área que devem ser abordados no Ensino Fundamental com a finalidade de oferecer aos alunos um entendimento integrado das características e fenômenos do planeta Terra, mas que acabam muitas vezes negligenciados.

“Tradicionalmente, são os professores de Ciências e Geografia que trabalham os conteúdos do campo de Geociências. Porém, a formação de licenciados nestas disciplinas ainda é frágil no que diz respeito aos conhecimentos geológicos”, explica Maria Alice Santos, especialista da Fundação Vale.

Nos municípios mineradores, essa carência traz uma série de prejuízos, já que os alunos ficam impossibilitados de criar conexões entre o conteúdo visto na escola e as transformações cotidianas que observam em seu entorno, advindas da atividade mineradora.

Foi pensando nisso que a Fundação Vale lançou, no segundo semestre de 2016, um material didático estruturado para o ensino de Geociências nas escolas. Composto por dois cadernos, um para educadores e outro para alunos, o material está organizado em 10 oficinas que trazem atividades diversificadas, além de uma caixa com amostras de fragmentos de rochas e minerais devidamente identificados, imã e lupa, para serem utilizados em atividades práticas de investigação.

Amostras de fragmentos de rochas e minerais devidamente identificados integra o material Amostras de fragmentos de rochas e minerais devidamente identificados integra o material

O objetivo é oferecer uma fonte de apoio e inspiração para educadores e contribuir para a ampliação do entendimento sobre a Geociências de forma mais lúdica entre os alunos de 10 a 14 anos matriculados no Ensino Fundamental.

O material está voltado preferencialmente para professores de Ciências e Geografia, no entanto, muitas das atividades apresentam caráter interdisciplinar, mobilizando conteúdos que vão da Matemática às Artes, o que possibilita também a abordagem por outras disciplinas.

“Sabemos que a formação inicial do professor é muito incipiente no que diz respeito à Geologia. O material ajuda a complementar esta formação. As atividades propostas são exequíveis na realidade da maioria das escolas públicas e ilustram de modo interessante e agradável a abordagem encontrada nos livros didáticos”, explica a professora Mônica Waldhelm, coordenadora do projeto e autora de diversos livros didáticos na área.

Maria Alice acrescenta que o material foi construído tomando por base a autonomia e criatividade docente e, como todo recurso didático, tem limites e possibilidades. “O educador tem liberdade para utilizar o material na sequência que desejar, complementando-o com questões específicas da sua realidade, afinal, cada sala de aula e cada aluno é diferente e essa diversidade deve ser considerada e valorizada”, diz.

Quando realizado de maneira contextualizada, o ensino de Geociências nas escolas amplia a leitura de realidade das crianças e pode ajudá-las a melhor compreender a cidade onde vivem. “As crianças e jovens são levados a relacionar aspectos históricos e sociais com a atividade mineradora na região, valorizando sua cultura sem deixar de ampliar suas referências. Além disso, aspectos ambientais são destacados, estimulando atitudes individuais e coletivas de cuidado”, explica Mônica.

Neste sentido, adotar um material estruturado, além de fomentar o interesse dos alunos pela geologia e mineração e promover atitudes pautadas na sustentabilidade, ajuda a valorizar o trabalho da população adulta que atua na atividade junto aos jovens, isto é, possibilita um maior vínculo entre as novas gerações e a comunidade da qual fazem parte. “Ao despertar o interesse e aprendizado em Geociências, o material também favorece a instrumentalização das crianças e jovens para entendimento e visão crítica de sua realidade, incluindo a mineração e outras dimensões”, finaliza Maria Alice.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.